sexta-feira, 22 de maio de 2015

Volto porque não me encontrei e se não me encontrei é porque não me perdi

       Resolvi sair do meu estado mudo, das minhas páginas em branco e dos meus milhares de textos engavetados. Sinto uma brisa que me pede que volte para um lugar o qual eu nunca havia deixado.      
        Vaguei muito pelo mundo e por todos os lugares que sua mente consiga imaginar, nunca me encontrei mas também nunca me perdi, a única coisa que entendi é que a vida será sempre uma busca, você nunca saberá onde está ou quem é, não importa quantas vezes você se pergunte. Há coisas questionáveis que não deveriam.
         Pensar nos eleva e também nos leva à própria destruição! Essa é a frase que sempre mantenho na cabeça e a qual me faz perceber que esvaziar-se é necessário. Mas, não falo sobre um esvaziamento do tipo que se possa ser aproveitado. Esse tipo toma muito da mente, do coração e da alma. Um esvaziamento reflexivo é o mal do artista, compositor, pintor ou poeta. Faz sentir-se bem do mesmo modo que faz sentir-se mal. É por isso que andei refletindo sobre o quanto valeria permanecer muda, mas daí percebi que enquanto simplesmente pensava sobre o fato, automaticamente me esvaziava e não era algo nulo. Nunca foi uma Yoga ou meditação, nunca tornei meus pensamentos não processáveis pelo meu cérebro ou pelo meu eu poético.
         Palavras simplesmente vem e saem quando eu menos espero, em uma simples conversação em roda de amigos. Não posso me calar. O porquê? Não sei, e entendi que não vale a pena ser questionado. No fim reforço: não me achei e isso é um sinal de que não estou perdida.
          Volto para escrever, para me deixar sentir as coisas que simplesmente vem. Coisas que nunca parei de ter sentido.

                                                                                                                                            Adelle Silva

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Multidões suicidas

      É passível de se entender sua realidade morta e sonhos inteiramente surreais. Você está no meio da multidão e todos os outros também estão. Mortos em um caminhar retilíneo, com seus passos atropelados e atropeladores. Não veem as formigas que trabalham a frente dos seus pés, não veem como elas se acabam bem abaixo das suas solas. O visível é tão somente o que se põe frente a seus olhos e eles precisam antes ter um querer pelo enxergar. Torpes, insanos, acometidos por esse blasé. Simmel jamais imaginaria a proporção do seu dito. 
      Eles continuam caminhando, sempre indo, vão se esfacelando, deixando aos poucos de ser... e vão não sendo, não vivendo... e já foram. Acabam-se como as formigas. Soterram-se por seus próprios pés.

Adelle Silva

quinta-feira, 23 de maio de 2013

9:58 PM

       Dê-me um gole de café, cuspirei essa droga de bebida amarga. Dê-me um cigarro e brigarei com todos os dedos de minhas mãos sem saber acendê-lo. Não pertenço aquela antiga geração de escritores não com tantos vícios visíveis.
   
         Minhas drogas, são muito mais insanas e não há nenhuma que me mantenha desperta. Não consigo ser noturna. Não posso ser.
          
          A noite invade com fúria. Meus sentidos apagam contrariando as luzes que fazem da cidade céu, contrariando a lógica de todo e qualquer escritor que se preenche no silêncio de uma madrugada. Meu sono é vago, inebriante. Não sei o que digo, não sei o que faço, minhas memórias da noite são totalmente vazias, distantes. Não me pertencem.

           E agora já nem estou. E agora já nem sou. Já não...

 Adelle Silva

domingo, 21 de abril de 2013

The Song Is Real

   Levantei os olhos e o céu era negro, apenas o cruzeiro do sul piscava trazendo uma sensação de algo que já não lembrava. Minhas memórias eram mortas. Sufocadas pelas horas que rápidas e sobre mim me fizeram louca. Sim, ser racional é ser insano. É ver o tempo apenas numericamente, sem as forças que nele se manifestam.

   Mas eu senti. Naquelas manhãs eu senti. Não pensei. Apenas senti. 
   
   Pensar é altamente destrutivo.

   Dei passos mudos, seguindo a trilha de concreto que traçaram cortando os formigueiros. Fui até você e mesmo sentado você também vinha a mim. Meus galhos contorcionistas, enrolavam-se em sua direção. E o silêncio  conseguia fazer muito barulho. Nunca foi preciso falar muito. Dizer as vezes é um atrapalhação, quase como pensar. Ouvia-se apenas a respiração e um riso que as vezes vinha. 

   A cena estava conectada à clareira que os ramos mais altos formavam com o passar do vento. As folhas também drenavam gotas da chuva que despencavam sobre minhas pálpebras. Talvez naquele momento o dia era quem pensava.  Este era um inverno em uma versão menos sombria... não haveria uma desconexão ao fim . Para as quatro estações, mais de três dias.

   As formigas escalavam preferivelmente você enquanto eu me sedia involuntariamente ao ciclo de vida dos pernilongos. Nos chamávamos com os olhos enquanto tudo acontecia ao redor. Eramos menos humanos e muito mais aquela natureza que por tantas horas observamos. 

    Um pássaro havia pousado naquela árvore. "On the way home", seu canto é real.

Adelle Silva

domingo, 31 de março de 2013

O chão que não senti

     Algo me desnorteou. Desci aqueles degraus como se não fosse. Estava externa a mim. Uma multidão invadia e eu via aquilo apenas de fora, controlando a matéria com uma força muito mais superior que a necessária.
      
     Aqueles olhos haviam me roubado. Roubaram a mim e devolveram em seguida um pouco mais que eu.

Adelle Silva

domingo, 17 de março de 2013

    Seus cabelos limpadores de para-brisa eram levados pelo vento, chicoteavam levemente a minha cara enquanto eu tentava enxergar o caminho. O rádio ligado nos dava um som de ruídos e um folk que lembrava o final dos anos 60.
                
   - Não há dor nem flores suficientes para um bom texto.

     Era o que ela me dizia com um olhar distante[...] Todo o resto era nada. 

Adelle Silva em "Esparáxis"